sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre traduções e um dos meus livros preferidos...


Acho que nos dois únicos e modestos posts que este modesto blog tem, devo ter me repetido algumas vezes sobre o quanto eu gosto de ler. Gosto mesmo, e acho até que hoje em dia leio menos do que gostaria, mas me lembro que desde criança sempre tive o hábito (aprendido com “mamis”) de ler pelo menos um pouquinho antes de dormir. Em tantos anos como leitora, vez ou outra me deparei com a polêmica “traduções X originais”, principalmente depois que comecei ler livros em inglês também. Um dos exemplos mais comuns é o da saga Harry Potter. Eu adorei, li todos mais de uma vez, nos dois idiomas, e sinceramente só tenho elogios à Lia Wyler, que conseguiu traduzir o mundo bruxo e seu vocabulário complexo sem nada dever ao original. Há que se compreender, lógico, que as palavras “inventadas” por J. K. Howling passaram por uma “reinvenção”, e não exatamente uma tradução, nas mãos de Lia. Acho fantástico que mesmo quem não domina o idioma inglês, mas é fã da série, tenha conseguido viajar pelo mundo de Hogwarts graças a uma tradução tão cuidadosa e bem trabalhada.
Um dos livros que eu mais gostei de ler na vida ( e reler, e reler, e reler...) chama-se A Sombra do Vento, ou melhor, “La Sombra Del Viento”, do escritor espanhol Carlos Ruiz Zafón. Escolhi este livro muito por um acaso, na verdade porque o nome me chamou a atenção, numa lista de sugestões para amigo secreto. Somente quando o ganhei de presente é que fiquei sabendo se tratar de uma tradução, mas não me importei. No começo, achei a leitura um pouco arrastada, mas quando peguei o ritmo, não conseguia largar o livro. Não apenas porque a narrativa é extremamente envolvente, o enredo é criativo e muito bem trabalhado, mas porque constantemente me via surpreendida por um trabalho tão incrível com as palavras que a própria descrição deste blog é uma citação dele. Fica claro para mim não apenas o talento de Zafón como escritor, mas o excelente trabalho da tradutora Márcia Ribas, pois eu que não domino o espanhol jamais teria a chance de descobrir uma história tão marcante.
Claro que é muito fácil encontrar traduções de péssima qualidade por aí... mas de modo geral, eu gostaria de agradecer à todos os profissionais sérios da tradução que me permitem conhecer um mundo novo através de uma história que infelizmente não teria condições de ler no original... e mais gentileza e menos ceticismo no olhar dos leitores por natureza sobre as traduções!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

CARA DE CORUJA SECA...



Eu gosto de falar sobre livros. Sobre os que eu li e gostei, sobre os que eu não gostei tanto, sobre os que ainda quero ler... e de modo geral, também não me importo de emprestar livros que as pessoas quem sabe também venham a gostar.
E quando eu digo DE MODO GERAL, quero dizer que toda a regra tem exceções. Como por exemplo, a minha coleção do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Minha coleção de capa dura, amarela, do Círculo do Livro. Se você nasceu no fim da década de 1980 ou depois, não tem a menor ideia do que seja isso que eu estou falando. Mas o fato é que, quando ainda não existia internet, era do Círculo do Livro que minha mãe encomendava, mensalmente... e eu esperava pacientemente pelo meu novo volume da coleção do Sítio. E quando os livros chegavam eu me esquecia da vida, querendo saber logo se a nova aventura de Narizinho, Pedrinho e Emília seria mais legal que a anterior...

Pois então que se completou a coleção de 12 volumes, que ao longo desses – 17 ? – anos foi lida, relida e conservada com amor e carinho e muito apego material mesmo, não vou negar. Até que minha mãe - pessoa que acho que pensa que o mundo pode ser salvo pela leitura, como eu - emprestou os dois primeiros exemplares da coleção para uma pessoa X que teoricamente precisava fazer um trabalho de escola e nada mais. Para mim, estava na cara que a história não ia acabar bem... e foi então que esta semana recebemos a notícia de que os livros foram “perdidos”. Perdidas, minhas “Reinações de Narizinho” e “Caçadas de Pedrinho”, simples assim... só me restava chorar, e obviamente foi o que fiz. Eu sei que muita gente vai achar exagero – e sinceramente eu nem ligo – mas não é como se eu pudesse entrar em qualquer livraria, comprar de novo e pronto, coleção refeita. O Círculo do Livro morreu com o advento da internet, sabe onde é que a mãe da pessoa X vai encontrar livros exatamente iguais aos meus? Quem tem ou não vende nunca, ou vende a coleção toda...

Eu sei que é difícil entender meu desconsolo. Talvez essa coleção signifique tanto para mim porque eu conheci Monteiro Lobato pela sabedoria de Dona Benta. E durante anos, na minha imaginação, o sítio tinha mais uma personagem, porque eu também estava lá, visitando o País da Gramática com a Emília, assistindo ao casamento da Narizinho com o Príncipe Escamado no Reino das Águas Claras, e até na Grécia eu estive para ver de perto os 12 Trabalhos de Hércules. É... na verdade, durante anos eu vi o mundo pelos olhos de Lobato, e se não fosse assim talvez eu nunca me interessasse em ler um conto adulto dele. Acredite se quiser, existem regras da língua portuguesa e histórias da mitologia greco-romana das quais eu me lembro até hoje porque li no “Sítio” primeiro, não na escola.
É por isso que pode parecer exagero, drama, o que for, mas o fato é que minha coleção está “aleijadinha” e me deixa muito triste que meu tesouro tenha sido tratado com tanto descaso por uma criança. Triste vida a dela, que não se apaixonou pela magia daquelas histórias. Triste estou eu, desde que soube que meus livros se perderam, estou me achando com uma grandessíssima CARA DE CORUJA!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O que todo mundo sabe que todo mundo sabe...

A sociedade moderna, tecnológica, imediatista, torna o hábito da leitura quase que ultrapassado. Num mundo de sites de relacionamento, a atenção do leitor, especialmente do jovem, não se prende além dos 140 caracteres. A Literatura, por consequência, não ultrapassa os portões da escola, onde é matéria obrigatória e pela maioria considerada chata. Nosso país se orgulha de ter tantos e tantos alunos inseridos nas escolas e tapa os olhos para a grande verdade: quase que a totalidade destes alunos pode ser considerada de analfabetos funcionais, e isso não se dá apenas no âmbito do ensino público não. Escolas particulares se iludem pelo fato de incluir "Dom Casmurro" ou "O Cortiço" em seus currículos e deixa passar despercebido o fato de que seus alunos apenas decoram o que é mais importante para obter nota na prova, sem qualquer interesse pela leitura que se apresenta e, mais grave ainda, sem compreender o que se passa na narrativa, tampouco seu contexto histórico.

Professores jogam a culpa nos alunos, que por sua vez devolvem-na aos professores, dizendo que os livros adotados são muito chatos. Vale a pena mesmo procurar um "culpado"? Vale lembrar que esse não é um fenômeno exclusivo no Brasil. Há alguns anos o fenômeno Harry Potter passou a ser utilizado como instrumento de trabalho por professores na Inglaterra pois estava trazendo de volta aos jovens o gosto pela leitura. Tal atitude foi duramente criticada por alguns especialistas, por não se tratar de literatura clássica. Mas e se essa foi a porta de entrada encontrada pelos professores ingleses para transportar os alunos ao mundo de Shakespeare e Oscar Wilde? Talvez aqui no Brasil seja a hora de uma ação semelhante, encontrar o que de fato parece relevante aos alunos e a partir daí buscar a intertextualidade entre a literatura contemporânea e os clássicos, para salvar o prazer de ler que hoje se limita às últimas notícias do Big Brother ou às "tuítadas" dos amigos.

Tenho certeza de que o que digo aqui não é a invenção da roda, e muitos bons professores devem estar por aí fazendo seu trabalho de formiguinha. É vital para o bem da educação que os detentores do poder percebam isso também, e se juntem numa grande ação. Caso contrário, a longo prazo o problema da falta de interesse na Literatura repercutirá em grande escala (já acontece hoje em menores proporções) no ensino superior, na leitura e interpretação de textos técnicos e no desenvolvimento do senso críticos. Sem o estímulo da leitura, sem que se desenvolva a compreensão acerca da Literatura desde a educação fundamental, estamos fadados a ver gerações incapazes de expressar seus pensamentos e talvez até de desenvolvê-los, meros repetidores do que já foi dito tantas e tantas vezes.