quarta-feira, 21 de setembro de 2011

CARA DE CORUJA SECA...



Eu gosto de falar sobre livros. Sobre os que eu li e gostei, sobre os que eu não gostei tanto, sobre os que ainda quero ler... e de modo geral, também não me importo de emprestar livros que as pessoas quem sabe também venham a gostar.
E quando eu digo DE MODO GERAL, quero dizer que toda a regra tem exceções. Como por exemplo, a minha coleção do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Minha coleção de capa dura, amarela, do Círculo do Livro. Se você nasceu no fim da década de 1980 ou depois, não tem a menor ideia do que seja isso que eu estou falando. Mas o fato é que, quando ainda não existia internet, era do Círculo do Livro que minha mãe encomendava, mensalmente... e eu esperava pacientemente pelo meu novo volume da coleção do Sítio. E quando os livros chegavam eu me esquecia da vida, querendo saber logo se a nova aventura de Narizinho, Pedrinho e Emília seria mais legal que a anterior...

Pois então que se completou a coleção de 12 volumes, que ao longo desses – 17 ? – anos foi lida, relida e conservada com amor e carinho e muito apego material mesmo, não vou negar. Até que minha mãe - pessoa que acho que pensa que o mundo pode ser salvo pela leitura, como eu - emprestou os dois primeiros exemplares da coleção para uma pessoa X que teoricamente precisava fazer um trabalho de escola e nada mais. Para mim, estava na cara que a história não ia acabar bem... e foi então que esta semana recebemos a notícia de que os livros foram “perdidos”. Perdidas, minhas “Reinações de Narizinho” e “Caçadas de Pedrinho”, simples assim... só me restava chorar, e obviamente foi o que fiz. Eu sei que muita gente vai achar exagero – e sinceramente eu nem ligo – mas não é como se eu pudesse entrar em qualquer livraria, comprar de novo e pronto, coleção refeita. O Círculo do Livro morreu com o advento da internet, sabe onde é que a mãe da pessoa X vai encontrar livros exatamente iguais aos meus? Quem tem ou não vende nunca, ou vende a coleção toda...

Eu sei que é difícil entender meu desconsolo. Talvez essa coleção signifique tanto para mim porque eu conheci Monteiro Lobato pela sabedoria de Dona Benta. E durante anos, na minha imaginação, o sítio tinha mais uma personagem, porque eu também estava lá, visitando o País da Gramática com a Emília, assistindo ao casamento da Narizinho com o Príncipe Escamado no Reino das Águas Claras, e até na Grécia eu estive para ver de perto os 12 Trabalhos de Hércules. É... na verdade, durante anos eu vi o mundo pelos olhos de Lobato, e se não fosse assim talvez eu nunca me interessasse em ler um conto adulto dele. Acredite se quiser, existem regras da língua portuguesa e histórias da mitologia greco-romana das quais eu me lembro até hoje porque li no “Sítio” primeiro, não na escola.
É por isso que pode parecer exagero, drama, o que for, mas o fato é que minha coleção está “aleijadinha” e me deixa muito triste que meu tesouro tenha sido tratado com tanto descaso por uma criança. Triste vida a dela, que não se apaixonou pela magia daquelas histórias. Triste estou eu, desde que soube que meus livros se perderam, estou me achando com uma grandessíssima CARA DE CORUJA!

Um comentário:

  1. Cara amiga de infortúnio
    Posso entender perfeitamente como você está se sentindo, pois passei pelo mesmo problema por diversas vezes. Perdi, inclusive, um exemplar raro da primeira edição de Olhai os Lírios do Campo de Érico Veríssimo.
    Fiquei e fico muito triste por saber que muitas pessoas ainda não tiveram o privilégio de descobrir o "mundo" que existe dentro de um simples livro.
    Porém, uma coisa é certa, não perco a fé na humanidade, prova disso é que sou EU a mãe incauta, a "emprestadeira"(como diria a Emília) de livros. E lhe peço mais uma vez que me perdoe.
    Beijos

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